quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Esses textos que publiquei logo abaixo, foram dois textos antigos que eu pensei que havia perdido, ainda estou procurando O DIÁRIO DA MALVADA e DOCE CIANA, se achar logo colocarei ai.
Faz tempo que não faço algo tão legal, mas falta um pouco de inspiração.


A OBRA FINAL



É a falta de sentido que me abusa, me irrita e, as vezes, fere. São noites sem dormir me desnudando a carne, ferindo a alma com ferro em brasa. Inquietando-me.

Ontem ela bateu a porta três vezes, chamou meu nome e foi embora. Por suas batidas percebi a necessidade em sua voz, o desejo ardente pulsando-lhe as partes.

Mas hoje, não, Moça, hoje não!

Os passos no piso de madeirsa, salto a prender nos buracos, ficaram mais distantes a porta fecha e o som do cantar dos pneus.

Ela volta para seu apartamento, cheia de desejos, cercada de gatos e conselho da mãe. E eu ensaio minha despedida.

A carta!

Feche os olhos, Moça. Desfaça-se de maquiagem, paetê, GUCCI...Não lhe dói nada entrar em minha vida, deixe-me uma vez retirar minhas mascaras ao invés de sua calcinha. Prometo que está experiência não irá lhe custar nada.

Todos os escritores são suicidas. Alguns, apenas, não tem coragem para tanto, outros tendem a considerar sua carta de suicídio a “obra final” e falta humildade para terminar.

Terminar uma obra, pari-la e jogá-la ao mundo: “Vai ser grande!”

Por favor, Moça, não tente me despir, ouça primeiro o que tenho a lhe dizer, deixe-me cuspir idéias em seu ouvido para que só dessa vez, só dessa vez, eu consiga alarga outra coisa se não teu corpo.

E no caixão coberto por terra sacra e vermes espera-se a repercursão de sua opera, o quebrar dos vidros ao final da última e aguda nota. Quantos foram ao teu enterro? Quem diante de tuas páginas derramou lágrimas sinceras e conseguiu compreender seus motivos? Escritores são seres narcizistas e por sentirem todas as dores do mundo Deus lhe dá a liberdade, de após a morte vagar um olho pela terra para espiar sobre os ombros o admirável bater de asas de sua quimera. Voe sonhos, voe alma e voe vida...Embaixo de todos os escritores poderão dormir o sono dos justos ou afogar-se na desilusão eterna até quem sabe a redenção da compreensão.

E ela me olha, em seus olhos um misto de pena e incompreensão. Em mulheres como aquela esse misto só pode significar adeus. Ainda penso em agarrar-lhe a cintura e fazer aquilo pelo qual ela sempre me procura: acalentar sua solidão. Jogar-lhe sobre a mesa, lamber-lhe uma ou duas coisas, chupar outras tantas e penetrá-la com necessidade suor e vaidade, ao final de tudo, ainda gotejando jogar meu corpo sobre a cama e apontar-lhe a porta.

Não, Moça, hoje não!

Hoje, ao final de tudo, torço para que dessa vez seja eu a cruzar a porta, atravessar o cruzamento e não sentir vontade de voltar.

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