domingo, 25 de março de 2007

CAP 1

Essa é uma seriezinha que estou preparando sobre "romance in durango", não sei se vocês se lembram.


Ele sempre fora um forasteiro, dentro de sua cidade um estranho no ninho, estrangeiro em seu mundo, nem a si mesmo compreendia, então, não esperava muito dos outros. Os outros sempre foram um universo a parte, perdidos em outras órbitas. Desde que deixara o ventre materno conhecerá o significado da palavra solidão, em qualquer canto estaria só, era seu fardo. A solidão da Lua sem vida, de um ser que perderá algo antes mesmo de tê-lo encontrado. Caminhava como um condenado a forca, cabeça baixa, pensamentos alheios e olhar sem expressão, como um animal empalhado não tinha sequer alma. Talvez tivesse nascido morto ou morreu no decorrer dos anos frivolos, congelado em seu próprio universo: Nunca sorria, tampouco, falava, muito, o suficente.
A cidado o exilava ou ele exilava a cidade. Atitudes controrvetida e fazendo "amizade" com a margem. Um mouro com olhos de fidalgo... Era o filho bastardo "da outra", na verdade, não sabia ou fingia não saber quem era seu pai. Sua mãe dormirá com tantos, a tantos lares ela desfez, tantas acusações de paternidade que cairá em descrença e ele, parecia não se importar. Estava alheio a tudo isso ou seria superior a tudo isso.
As vezes ia a missa, o padre, apesar de tudo ainda era seu confindente. Sentava ao lado da mãe, parecia não se arrepender de seus pecados.
Com quantas dormirá?
Quantas virgindades tirará?
Quantas mulheres seduzirá com ausência do sorriso e de uma reputação?
Ele não se importava, ele parecia não se importar com os pecados, com o frenezi que causará, com a solidão. Trabalhava no porto pela manhã, a noite em um bar local, sua mãe fora costureira e lavadeira, hoje vivia no sítio com duas filhas e ele. O homem da casa...
Não tratava as irmãs com punhos duros, mas elas, por conhecerem a realidade da mãe e sua realidade eram um exemplo de candura, mas, nunca deixariam aquele sítio. Podiam não ter a fama, mas mesmo assim, o perfume de carmélia empreguinara toda aquela família.
Aos domingos costumava sentar-se no leito do rio com um amigo, tomavam banho, pescavam alguns peixes e depois iam embora. Mal falavam, ele mal falava.
Durante o colégio uma professora se encantara com suas redações, queria que ele fizesse faculdade, virasse jornalista, mudasse de cidade... Queria mudar seu destino. Ele dormira com ela e ela deixou a cidade assim que seu marido se matou. ele mudou seu destino. Ele também vira que o colégio não o levaria para longe, ser doutor, nessa vida, não! Nessa vida: peão, carregador de sacos de estopa, atendente, segurança... Sua linha da vida era reta, sem grandes mudanças, sem grandes acontecimentos. Aprisionado naquela cidade, emaranhado na tristeza.

Ela conhecia sua fama, o conhecia bem, contos e causos, estórias e histórias, lendas de um homem que parecia ser feito de chumbo que nascera do ventre de um prostituta com quase 4 quilos e surgira nas mãos de uma feiticeira, tinha o corpo e coração fechado. Soubera das vezes que embreagado jogará-se no rio ou navalhado o marido de um professora. Sabia do frenezi que causava nas moças e o que todas queriam dele, arrancar o silêncio. Seria arrancar divindade de uma simples mulher dizer que as vezes não o desejará, mas ao mesmo tempo, o repelia. Sentia na pele o medo daqueles olhos de serpente, do corpo moreno, dos pêlos, músculos, cicatrizes e assanhamento, seria quente seu abraço? Talvez fosse isso que todas sentiam, mas algumas iam além, deitavam-se com ele. Deitavam-se na beira do rio, por trás da igreja, em terrenos e muretas, destruiam toda uma reputação e uma chance de um bom casamento, muitas vezes, por aqueles mesmos pêlos, músculos, carne e suor que seu corpo repeliam. Como seria estar em seus braços? Deitar a cabeça em seu ombro e esperar que ele sorrisse ao final do ato? Ele sorriria aliviado?
Não!
Não! Ele vestiria a calça e saíria pela tangente, fingiria não conhecê-la, a deixaria louca por não entender os caminhos para seu coração.
Não! Sai pensamento!
Deixa então que ela voltasse para os livros, para o caixa da padaria, para a cozinha onde conversaria com sua mãe sobre bordado e babados.
Ela tinha cabelos longos, costumava usar laço para prender parcialmente as madeichas, olhos claros e pele de porcelana, só não era mais bonita pelo ar bastante delicado e a beleza um pouco doentia, sem sinais, rugas ou corar do Sol, mal saia de casa. Seu pai era o padeiro e prefeito, sua mãe uma beata local, com tantos pecados como qualquer uma, mas era uma mulher melhor que as outras, era a primeira dama. Era gorda, olhos claros e pele de uma brancura doentia, tinha parido doze filhos mas só ela sobrevivera.
Ela estava na janela quando ele passou carregando seus pensamentos e deixando seu cheiro, ela abriu a boca e viu-se perder naquela imensidão.
"Ele não tem uma alma, tem um buraco negro. Ele consegue arrancar tudo das pessoas que tentam se aproximar dele, destroe a vida de quem ama", lembrou-se da prima aos prantos antes do casamento.
Tinha sido a cena mais triste que vira, a prima desgraçada, chorando aos prantos pedindo que ele não a deixasse, implorando para fugir, casar ou morrer com ele:
"Ele nunca me amou, mas isso não impediu que eu mergulhasse no buraco e o amasse..."
Correu para a cozinha onde dava para vê-lo trabalhando no porto, ficou exatamente na janela da cozinha, sentindo o vento cortar-lhe o rosto, fingia organizar uns novelos e com o canto dos olhos o via carregando sacos e sacos.
"Ele me deitou ali mesmo, no chão, levantou meu vestido e... Minha prima, foi um sonho. Aquele homem é diferente do Jorge, ele é um homem..."
Não!
Sai pensamento...
E ela voltou aos seus pensamentos, chorando ao entrar na igreja, Jorge chorando ao vê a mulher que amara sempre implorando para não se casar, desgraçada da cintura para baixo e da cintura para cima, toda de outro homem e nunca mais o amaria de novo.
"Ele mal sorri, passa boa parte do tempo calado, faz o ato e depois me joga como uma cadela. Outro dia pensei que queria carinho, pensei em conquistá-lo... Fiz jantar e queria passar a noite, mas ao final, ele me mandou voltar para meu marido e dessa vez sorriu, como se gostasse do fato de eu trair meu marido, de saber da pompa e de que me tinha como outros tiveram sua mãe... Você acha que é vingança?"
E se ele quisesse se vingar de todos aqueles homens que dormiram com sua mãe, das mulheres que falavam de sua mãe? E se fruto do pecado ele quiserá levar todos ao pecado?
Por ela tanto fazia, seus pecados ou os dele, ele quem sabia seu caminho. Se queria definhar não era problema, não era seu problema.

"O estás a pensar, Lena?". A cozinheira invadiu seus pensamentos:
"Nada de importante!"
"Está a horas enrrolando e desenrrolando esse novelo, menina, vai procurar o que fazer. Trabalhar na padaria ou ajudar tua mãe com os convites."
"Os convites...", suspirou.
Ela olhou para aliança e lembrou do casamento:
"Os convites!"
"Vai repetir isso quantas vezes?"
"O que?"
""Os convites!", ora! Não sabe que sua mãe está escrevendo a horas um por um, você deveria ajudá-la."
"Mamãe não quer duas letras, deixe-a lá, Naná. Não vê que quero pensar?"
"Quem pensa muito o diabo consome. "Mente vazia, casa do diabo", não sabe disso, menina?"
"Sei, Naná...Sei!"
"Então, saia dessa janela e procure o que fazer!"
"Eu vou ficar aqui por mais algum tempo, só mais algum..."
"Você que sabe, mas olhe, conheço uma pessoa que começou só olhando e acabou jogando o nome de duas famílias no lixo. Deixe disso, menina, não vê que está procurando..."
"O que, Natilda?"
"Oi Mamãe!", ela levantou-se da janela e foi para o sentido oposto da cozinha, fingiu beber um copo d´água e começou a "cavuscar" as panelas inquieta.
"Estava falando para a Sinhá Lena que deveria conversar com a senhora sobre as núpcias, aquelas conversas, madame!"
"Já planejei tudo, Natilda. Vou levá-la para um médico na capital e ele a explicará tudo, todos os detalhes e de lá já voltamos com o enxoval, todo bonito e único..."
"Mamãe, e a casa?"
"Seu pai disse que por enquanto vocês irão morar aqui, vai conversar com o compadre amanhã e depois do Natal, o mais tardar em março vocês se mudam para a casa, ainda falta alguns pilares e o portão que vem de longe, meu bem!"
"Acho que o Gustavo não vai querer morar aqui, pensei que ele poderia alugar uma casa para vivermos."
"Por favor, Madalena, não sugira tal coisa. A mãe dele vai querê-lo por perto e irá sugerir que morem na casa dos Amaral Moreiras, mas já disse a seu pai, você vai viver conosco o máximo que puder. Não te quero longe, meu bem!"
"Certo!"
Olhou para a janela e notou que ele a observará, por um breve momento trocaram olhares e ela sentiu, que a partir daquele instante sua vida nunca mais seria a mesma.

Nenhum comentário: