quarta-feira, 21 de novembro de 2007

SEXY AND THE JAMPA
Traduzido pela SBT como
Solteira* em João Pessoa
*mas eu prefiro chamar de mulheres possíveis
Episódio II de VIII
(em numeral romano que é chique!)
episódio de hoje:
I, myself and my Gosths
“Esse segundo capítulo foi um pouco mais complicado de fazer,
Primeiro, não consegui seguir o tema “fantasmas”,
Acabei ficando quase um mês presa nele, dá para acreditar?
Segundo, eu queria colocar mais um personagem,
Mas achei que ficaria difícil seguir com mais personagens, então,
Talvez eu tire um antes de acrescentar outro.
Terceiro, ainda falta colocar as imagens, pretendo colocar somente parte do filme "Noiva Cadaver"
Quarto, queria que no final as personagens se encontrassem,

Mas achei melhor deixar para desculpas ficarem para o dia seguinte.
Espero que gostem!”
DyeLL Araújo, 21/11/2007

O barulho dos pés arrastando pelo assoalho frio, o tilintar das correntes e um uivo baixo de dor e aflição, portas que abrem mesmo estando trancadas, janelas abertas e vento invadindo a casa sacudindo as cortinas finas. Fantasmas acorrentados...
Você pode fugir, fingir, mas estando o inimigo dentro de você, ele irá encontra-lo.
"Como é difícil viver com um cemitério na cabeça"... Tudo está em sua memória, os momentos que viveu. Você preso em você. Preso a alguma coisa ou alguém, são as amarras que se escolhe involuntariamente é o subconsciente pregando peças, o carcereiro se confunde com o prisioneiro, acorrentando em recordações, no passado, em sonhos nunca desfeitos ou, simplesmente, não realizados. Se eu pudesse realizar um desejo seria não ter passado, seria fechar os olhos, caminhando pela praia, e não pensar nele, não imagina-lo com outras, não vê-lo realizando nossos sonhos sem mim. Não desaparecer no apartamento, nas fotos e no boa noite, vê-lo sem mim e ainda assim amá-lo.
É pedir demais? Apagar da memória todos nossos momentos?
É pedir demais? Bater a cabeça e esquecer exatamente alguém? Alguém que lhe acorrenta ao passado?
Não precisava esquecer justamente o passado, poderia esquecer somente as correntes e conseguir caminhar livre...
O barulho dos pés arrastando pelo assoalho frio, o tilintar das correntes, um uivo ou gemido de dor e aflição, as portas abrem mesmo estando trancadas, janelas abertas e o vento invadindo a casa sacudindo as cortinas finas. Fantasmas acorrentados...
Renato Russo perguntou quem foi que inventou o amor, eu gostaria de saber quem inventou a memória, quem inventou as correntes, os esqueletos no armário, a solidão, a saudade, ausência, o frio, o fracasso, a tristeza, o medo, o desejo e a ilusão, quem inventou tudo isso? Acho que sou mais confusa ou curiosa que R.R, ou mais confusa. Fantasmas acorrentados, todo mundo conhece esse cena. Mas já se perguntaram o por quê das correntes? Acorrentados a que? Ao mundo! A projetos inacabados: amor, dinheiro, sonhos não realizados, vingança, ódio. Ficam vagando pela terra presos a si mesmos, presos ao mundo, presos a eternidade e seus uivos de lamentação podem ser confundidos com o vento. Mas só quem sente o frio na espinha sabe do que estou falando... Em vida se não resolvemos bem nossas “pendengas” ficamos acorrentados a elas, vivendo de lembranças... Com um cemitério na cabeça...
Começamos a fazer história antes de fazer a roda, manipular o fogo, ter uma consciência social, antes de falar, antes de pisarmos na terra a história já existia. A história começou antes da gente e vai continuar depois da gente, no entanto, é muito difícil conviver com ela e sem ela. Ela que nos ensina a sobreviver e a subviver, porque junto dela estão nossas lembranças.
É difícil andar por uma cidade, dentro de labirinto repetitivo de aço e concreto, e vê em cada esquina um pedaço de nossa história, alguns sentimentos doloridos, trechos de nossa vida que provavelmente morrerá conosco, são as músicas dedicadas, a recordação do abraço de despedida, os sorrisos, beijos, desejos, planos, pedaços de sonhos desfeitos numa certa esquina, das lágrimas derramamos salgando uma coxinha na Blunnelle da Epitácio.
Numa cidade tão pequena quanto João Pessoa é provável que encontremos diariamente com trechos de nossa história, com fantasmas do passado, algo puxando nosso pé embaixo da cama.
E atire a primeira pedra quem não anda uivando pela madrugada acorrentado a recordações, dando tudo por uma chance para corrigir velhos erros, quem não tem medo do passado, dos esqueletos no armário, quem não gostaria de apagar alguma coisa da memória para poder seguir em frente e ter consciência limpa...
Fico me perguntando para que um coração cheio de cicatrizes, uma alma manchada e marcada a ferro em brasa, para que serve todo esse passado alojado na memória. Antes pudéssemos selecionar o que recordar, apagar boas passagens que, ainda, só nos fazem sofrer.
“O que não nos mata nos fortalece?” ou só está esperando um momento para acabar com tudo, como um vírus alojado só a espera do seu momento de fraqueza? Tento pedir sempre que toda essa dor, essa recordação que ainda sangra, não seja em vão. E que um dia eu consiga me libertar das minhas correntes... E o passado seja só passado.


“Vai entender os homens...”, Lílian suspirou.
O difícil de ser amiga é negar um favor, então, eu e Ana estávamos ajudando a arrumar o novo apartamento da Lílian, mais próximo a civilização.
“Me respondam uma coisa, homens só querem sexo?”
E as duas olharam para mim, primeiro pensei que eu poderia ser uma espécie de ninfomaníaca, depois pensei que eu, das três
, poderia ser a mais teórica, por fim deduzi que esperavam que eu fizesse uma piada:
“Sim, principalmente os que s
ó querem sexo!”, respondi para não frustrar suas expectativas.
“O Bob nem isso quer... Faz
quase dois meses...”, Ana começou a desabafar sentada numa caixa.
“Dois meses? Tudo isso?”, perguntei.

“Ana, essa caixa está escrito frágil, sente-se nessa, tem livros!”, Lílian empurrou outra caixa com o pé: “Por amor aos meus copos, sua bunda e meu carpete!”
“Dois meses!”, comentou levantando-se e caminhando para outra caixa: “E não posso fazer programas noturnos na quinta, nem na sexta, muito menos no sábado, domingo ele chega em casa as dez horas e dorme até segunda-feira... Fora a loja de música que ele cuida nos dias de semana, tendo que dormir cedo para agüentar o tranco... Nunca me convidou para dormir na casa dele, quando sugiro que ele durma na minha ele, se não trouxer a malinha, tem que ir em casa busca-la e acaba não voltando, Malinha! Outro dia até papel higiênico trouxe...”
“Não tinha?”
“Tinha, mas ele trouxe...”, ela respondeu.
“Estranho...”, Lílian sentou-se em outra caixa. “Mas mesmo assim, eu não ente
ndo... Se eles só querem sexo porque complicam tanto? Quando só queremos só sexo, eles nos olham como se fossemos seres de outro mundo, alienígenas. Se assustam com essa idéia de que mulher também quer uma satisfação sem compromisso, se sentem feminilizados e não conseguem, fogem! Ou pior, começam a colocar romance, começam a se apaixonar e agem como mulherzinha... Lili, queria ligar para dizer que ontem foi muito bom. Você falou com suas amigas? Falei... Mas não de você! Poderíamos marcar de andar de bicicleta no fim da tarde... Eu, você e os pedreiros, né? ARG! E depois vem mais planos... Você quer sair a noite? Sim, mas não com você. Haja como um homem, me traia, arrume outra, me use... Me subjugue! Como eu poderia ser mais explicita? Será que deveria ter tatuado no braço dele SÓ SEXO?”
““Bejeto Sexual”, com certeza não restaria dúvidas...”, respondi.
“Mulheres e sua
s neuroses, você não queria um românce?”
“Não com ele, Ana. Sabe alguém que você conversa e não tem nada em comum? Ele era para ser jazz, só música... Sem letra!”
“Música você se refere ao sexo?”, Ana perguntou.
“Sim! A gente era isso h
armonia, era o pam pam pam, o tum tum tum... Sem aquela coisa de amor, cinema e conversas, na verdade, conversas, na verdade, não haviam...”
“Sexo bom, sem cobranças e conversa? Nossa, explicado porque ele se apaixonou...”, deduzi.
“Engraçado, eu não consigo sequer beijar alguém sem está apaixonada!”, Ana suspirou.
“Acho que a idéia de romantizar o sexo foi uma maneira que encontraram, antes
dos métodos contraceptivos de proteger a castidade da mulher. Tanto que a invenção da pílula, do anticoncepcional, foi um salto para o movimento feminista e libertação da mulher... Não creio que fazer sexo sem amor seja um retrocesso ou vulgaridade, é apenas curtição, os homens fazem isso desde sempre...”, Lílian defendeu o seu lado.
“Mas no final da n
oite você está sozinha, Lílian. E ai? Acho que sexo é mais do que satisfazer-se, é preencher”, engraçado que eu não imaginava a Ana tão puritana.
“Preencher?! Satisfazer? Querida! Eu ainda não aperfeiçoei essa minha teoria, seri
a mais fácil tendo namorado e isso eu não tenho. Tenho, biologicamente, meus desejos, eu necessito me satisfazer, preciso de sexo e preencher, acho que, as vezes pode ser preenchido sem amar alguém... Eu me sinto preenchida por vocês, pelo Ed, pela minha família, pelo gato... Eu acho que quando se é inteiro o romance torna-se acessório. Quero, mas não minha metade, porque eu sou inteira, quero outro inteiro para que possamos ser mais completos..."
"
Quero você inteira e minha metade de volta", suspirei.
"É isso, mas o inteiro não aparece! A solução para o pé frio é a pantufa, mais um cobertor... Desculpe se minhas idéias não são ortodoxas. Mas eu ainda prefiro ser preenchida sem dependencia e com qualidade, do que aceitar que qualquer um entre em minha vida... Prefiro vocês, o Ed...”
“Eu gostava de conversar com o Edson...”, Ana suspirou.
Pela sua cara era possível v
ê o quanto estava sozinha, talvez a pior solidão fosse essa estar sozinha dentro de um relacionamento, não se sentir completado com a metade. Engraçado o paradigma que se apresentava, de um lado Lílian se sentindo inteira mesmo sozinha, enquanto que Ana se sentia metade mesmo estando com sua outra "metade".
“Eu gosto de conversar com o Edson, mas desde que ele começou a namorar n
unca tem tempo, sempre ocupado. Ele havia prometido me ajudar com essa mudança, ai ontem fiquei sabendo que está num Hotel em Bananeiras, nem para desmarcar, droga!”
“Você teve sua chance, Lílian.”, Ana chamou o elevador.
“Chance?! Eu acredito em amizade heterossexuais, Ana!”

“Você acredita numa droga de sexo sem nada e não consegue juntar sexo a uma amizade? Isso é amor, querida! Sexo e amizade! Olha o que está na sua cara, menina! Dois mais dois igual a quatro!
“O que você está dizendo?”, Lílian parou.
“Estou dizendo o que está na sua cara!”, nessa hora pensei em procurar copos para levar água, mas ainda estava tudo encaixotado, estavam as duas gritando no saguão do prédio.

“O que está na minha cara, Ana?”
“Você quer que eu grite com todas as letras? O que tem o Edson? O que tem? Ele é um cara legal, heterossexual, int
eligente, carinhoso, charmoso, engraçado, bonito, boa pinta... O que tem ele? Por que será que depois que lhe conheceu ele não consegue manter um relacionamento? Deus, ele é lindo!!!
“E a culpa é minha? Ana, pare de tanto romance, algumas coisas não exist
em. Namoros são feitos para terminar, é fato.”
“Como assim não é sua culpa?”
“Não é sua culpa?”
“O que é isso inquisição? Vão me queimar?”, Lílian abriu os braços de forma dramática.
“Seria tão simples Lílian, você não vê o jeito que ele te olha? O jeito que ele fala de você?”, Ana apertou mais uma vez o botão do elevador, seus olhos estavam mareados.

“Você está sugerindo que o Edson é apaixonado por mim?”, Lílian perguntou, parecia um pouco atordoada, vivíamos dizendo isso a ela, mas parecia que pela primeira vez ela havia escutado.
“Você quer que eu tatue
no seu braço, porque já ta na testa dele!”
“Não seja tola, Ana, eu e o Edson somos amigos, amigos. Conhece isso? Amizad
e?”
“Conheço e você não sabe o que já fiz por amizade...”
“Não seja dramática...”, Lílian se virou para entrar no aparamento.

Ana a seguiu, saindo do saguão e entrou, novamente, no apartamento fechando a porta, eu que estava exatamente entre a porta fiquei do lado de dentro:
“Eu fiquei dias, quando terminei com o Edson, me perguntando se errei em ter apres
entado vocês dois... Sabe o que a Luiza disse quando falei isso? Disse que vocês tinham sido feitos um para o outro e que o meu estava por vir... O tempo passou, doeu fingir não me importar em vê-los saindo, em vê-los sempre juntos e fingir que não estava afim dele, ainda bem que o tempo sufoca e depois some. Mas achei que tínhamos um chance e que você estragou tudo. E como assim, agir que não é péssimo cruzar com o ex. ou ligar para sua amiga e saber que seu ex. está lá, amiguinho... Cara, olha bem, Lílian. O Edson é lindo, é inteligente, doce, simpático, amigo, companheiro, charmoso e louco por você. Olha a cara dele quando fala em você ou quando só lhe vê... As vezes eu tenho vontade de perguntar como ele consegue ser só amiguinho, como ele consegue te pegar no colo e agir como amiguinho... É péssimo ter deixado-o para você e você não ter dado valor... Mas você é minha amiga e faria o mesmo por mim...”
“Eu não sabia...”, Lílian ficou parada olhando para a cara de Ana.
“Pois é, doeu! Mesmo você não querendo você roubou meu namorado e o pior é que não ficou com ele, nesses anos todos só o vejo sozinho e eu sinto falta dele, sinto falta da amizade, do carinho, do sorriso dele, da companhia e você tem tudo isso, e não consegue dá um passo para frente, porque é estúpida. Porque vive cheia de mágoas com seu ex, porque é uma ignorante! Era tão simples, deixar que essa amizade viras
se amor, tão simples!”, pegou as chaves do carro e desceu numa perfeita cena mexicana, e numa perfeita sincronia o elevador abriu as portas para que Ana entrasse.
Lílian ficou olhando para minha cara, sentou-se numa caixa e começou a chorar:
“Eu ainda vou te ajudar com a mudança...”, sussurrei.
A respeito de toda essa briga, a gente nunca sabe aonde uma simples conversa vai nos levar. Eu estava com Lílian naquele enorme apartamento pensando em algo legal para dize-la:
“Sabe o que eu acho? Que você já ama o Edson, como diria Rita Lee, "amor sem sexo é amizade, sexo sem amor é vont
ade...”
“Eu não amo o Edson...Por que ninguém aceita que eu só quero a amizade dele? Você sente quando é amor, quando é paixão, você sente seu corpo latejar e isso não acontece com o Edson...”
“Então, a questão é que a proximidade de vocês dois não o faz bem...”
“Mas me faz bem, eu sinto falta dele.”

Luiza estava na Siciliano olhando livros jurídicos, tinha tomado uma decisão, voltaria a estudar para concurso, voltaria a sonhar em ser juíza.
“Quando comecei a estudar direito eu queria ser juíza... Nossa, como é péssimo vê os
sonhos desfeitos. Mas tive que trabalhar para pagar a faculdade e quando me formei já era gerente, estava acomodada demais para seguir em frente. O estranho é que foi preciso um cara me dá flores e essas flores não serem destinadas a mim para eu vê o quanto minha vida é patética, o quanto sou feita de sonhos não realizados, de confusões e enganos...”.
Ta bom, Alisso
n, o pobre e espinhoso vendedor, não queria saber da vida dela, mas queria muito vender muitos livros e se para isso tivesse que escutar toda a história da vida de Luiza ela acabará de encontrar um ombro amigo.
“Eu me senti tão patética pensando que ele era meu admirador secreto... Depois d
isso me perguntei se Deus não estava me punindo, eu sei que é bobagem, mas decidi que no lugar de procurar um namorado vou me dedicar a carreira, uma coisa não completa a outra, eu sei... Mas eu preciso colocar um sentido em minha vida e parece que arrumar um namorado, marido, sei lá, é aleatório e patético. Então, um fim patético para uma patética não é o que quero. Vou fazer uma pós-graduação, quem sabe virar juíza? Aceita HIPER? Divide em quantas?”
Saindo dali, cheia de livros na sacola, esperança no coração e fantasmas e serem e
xorcizados, sentou-se na praça da alimentação e ficou fazendo planos para começar a estudar.
Todos temos um fantasma, algo que escondemos embaixo da cama, dentro do armário e que temos que confrontar pela manhã quando procuramos o sapato, um casaco ou nos olhamos o espelho. Os fantasmas de Luiza não tinham rosto, eram seus sonhos desfeitos, era o diploma na gaveta, a aluna exemplar que se perdeu numa gerente de relação públicas. O episódio das flores a fez perceber que estava sozinha, estava envelhecendo e seus sonhos estavam se perdendo. Seu fantasma era a menina cheia de sonhos que o mundo corroeu...

Após o episódio da discursão das duas damas decidi caminh
ar pelo bairro de Manaíra até Tambaú, onde morava. A paisagem, as praças, o abandono do final de tarde de um domingo, a falta de pessoas nas calçadas ou crianças na rua brincando, me faziam lembrar que João Pessoa, em certos lugares, já não era tão provinciana. Agora, poucas eram as mães ou babás que cruzavam minha vista com carrinhos ou crianças, alguns carros com música alta e adolescentes caminhando até o shopping.
Ana e Luiza se conheciam da faculdade, haviam feito a mesma faculdade, Luiza conhecerá Lílian no
trabalho, eu conhecia Ana desde criança e Lílian conheci no colégio, conheci Luiza através de Ana e um dia descobrimos que tínhamos Lílian em comum. Ana e Lílian se conheceram através de mim. Foi assim que formamos nosso quarteto.
Como eu e Ana nos conhecíamos desde criança, eu era mais apegada a el
a, minhas primeiras recordações de amizade a incluíam, minhas revelações eram feitas primeiramente a ela. E Luiza e Lílian, por trabalharem juntas, eram mais amigas. No entanto, isso não impedia que Ana revelasse a Luiza algo que ninguém mais sabia. E embora tenha, futuramente, gostado de saber que somos igualmente amigas, no momento, me sentia traída por Ana.
Na minha cabeça, aquel
a discurção das duas parecia tão surreal que eu não sabia explicar, até aquele momento nunca havia passado na minha cabeça que o Edson era um fantasma na vida de Ana, para mim era só o Edson, o Edson da Lílian.
Mas ai, comecei a vê tudo mais clareza.

Problemas mal resolvidos tendem a estourar de uma hora para outra, como o episódio de agora a pouco, Ana sufocará aquilo por tanto tempo que de repente revelara da pior forma. Todos tempos nosso fantasmas, eu tenho os meus, Ana tem o Edson, Edson tem a Lílian, a Lílian tem o dela e se Luiza estivesse na história diria que também o dela. Somos todos uma quadrilha de pessoas mal resolvidas que não sabem lhe dar com sentimentos e com o fim. Interessante, é o que fim é a única coisa certa em nossa vida, nascemos para morrer, tudo que sobe cai e, no entanto, é tão difícil aceitar que uma relação se disfarça.
Pombas, que quadrilha era aquela? Ana que amava Edson que amava Lílian que não amava ninguém...
Voltando a realidade.
Gosto do bairro de
Manaíra e suas praças, é uma sensação infantil de imaginar que eu teria um lugar para brincar se quisesse.
O grito de um rapaz, chamando meu nome, me fez virar.
“O que está faze
ndo aqui? Algum problema?”, quando levantei a cabeça vi aquela imagem bonita do Pedro, desde que ele me socorrerá no G-14 eu não tinha mais falado com ele e lá estava ele, vestido de branco na minha frente.
“Você está parecendo uma aparição, um fantasma...”, sorri
“É que dois domingos por mês faço um trabalho voluntário nos bairros da cidade, acabei de chegar e quando desci do carro lhe vi.”
“Quer dizer que essa não é sua roupa de verdade?”
“É minha, não é alugada!”
“Não?! Por um momento achei que você fosse strepper...”
“Bem original, um dentista que s
e veste de dentista para animar despedida de solteiras. Acho que preferiria uma identidade secreta”
“Mais original do que se vestir de dentista no dia a dia, é como se você fosse o homem-polvo sempre!”

Homem-polvo sempre? Em sua cabeça isso fez total sentido?”
“Sempre faz!", demos uma gargalhada, "Você mora por aqui?”
“Exatamente ali!”, apontou para um prédio de frente para a praça. “Aconteceu alguma coisa?”, ele segurou meu queixo e examinou meu rosto, uma atitude típica de um médico
, dentista, veterinário ou pai, tocar sem pedir permissão.
“Não, só cansei...”
“Como anda a cicatriz?”, me interrompeu.
“Cicatrizando, cumprindo sua missão, cicatrizando...”
Ele sorriu: “Comecei a acompanhar sua coluna aos domingos, até assinei o jornal, todo domingo tomo café com suas palavras. Já estou me habituando ao seu estranho humo
r”
Dei uma risada
:
“Você e minha mãe, mas ela nunca se habituou. Como você está, Doutor?”

“Com fome! Quer jantar?”
“Falou as palavras mágicas...”


Ana entrou no apartamento e pensou em ligar para o Bob, saber de seu dia, contar da briga com a Lílian. Mas havia uma parede entre o telefone e o falar, pareciam tão distantes que nem lembrava a última vez que havia rido com ele.
Sentiria falta de sua malinha?
Sua avó sempre dizia que “antes só do que mal acompanhada”, ela casara aos muito cedo, teve oito filhos e morreu aos 90 anos antes do marido, ela não o viu triste e sem chão, não o viu morrer seis meses depois que ela se foi. Na verdade, ela nunca esteve numa
crise de nervos ao lado de um telefone desejando que ao invés de discar o telefone tocasse e ela ouvisse a voz dele, ele contando seu dia... Sua avó sempre teve “o homem para chamar de seu”.
Cazuza já falara da “solidão a dois”, de você está ao lado de alguém e haver um abismo entre vocês. Comunicação é um exercício indispensável e, no entanto, frustrante para cotidiano de um casal. “Você diz já foi e eu concordo contigo (...) mas no fundo eu nem ligo”, nem sempre o que se diz é o que de fato se sente. Seria tão fácil pegar esse telefone e contar que brigou com a Lílian e que não é fato de pensar no ex, é o fato de está sem o atual que lhe incomoda e ouvi-lo. Talvez o fato de não
haver sonhos, de se sentir tão só mesmo estando acompanhada...
Ela tocou no telefone e sentou-se no sofá. Qual era o problema com aquela mala? Porque não ser impetuoso e dormir sem pensar no dia de amanhã? Sem se preocupar se tem ou não papel higiênico em casa? Que tal seria ter uma gaveta e algumas roupas? Olhou para o telefone e pensou em sugerir isso.
Por que estava num domingo a noite sem o namorado?
Nunca se sentira tão sozinha. Toda vez que tocava no telefone se perguntava se era realmente aquilo que queria fazer, se deveria falar sobre a gaveta, sobre a mala, sobre papel higiênico, sobre a saudade... Talvez o não falar fosse o pior dos equívocos, romances começam e terminam com base em equívocos, em erros de avaliação, em expressões e ações subjetivas.
Mesmo que pretendesse explica-lo o que lhe incomodava, discutir a relação, para dar-lhe maior objetividade parecia um erro. Conectar ação, pensamento, emoção ou sentimento.
“Isso não existe!”, suspirou.

Era certo que aquele apartamento já tinha um pouco de história e para Lílian tudo passaria, quando deixasse de existir, aquele apartamento continuaria com a sua história e mais a de alguém. Lá no fundo, não era o apartamento que fazia parte da história dela e sim ela que faria parte da história do apartamento. Mas isso não impedia de ambos estarem começando do zero, o apartamento novo, sem furos na parede, com os dois quartos e o banheiro novinho.
E essa sensação de estar recomençando era a melhor de todas. É pegar um caderno limpinho e começar a reescrever sua história.
Não haviam muitas recordações dentro daquele espaço, mas todas, de certa forma, eram ligadas ao Edson, foram juntos escolher o apartamento, ele ajudará como fiador e agora não estava ali ajudando-a com a mudança:
“Eu vou morar naquela rua! Bem ali no meio... Quer dizer, não no meio da rua,
na rua mesmo... Enfim, naquele apartamento!”
“Eu já entendi, não precisava de tanta explicação, para que me chamou se já está decidida?”
“Sei lá, achei que sua opinião vale, quero que olhe o bairro, se acha algum defeito, confio no seu olho, meu e
ngenheiro favorito!”
“Bem, minha advogada mais louca, eu gostei do seu prédio, gostei do apartamento e da vizinhança, quando nos mudamos?”
Será que Ana tinha razão?
Ela voltou a todas as recordações que tinha naquele apartamento, já faziam quase sete horas que havia se mudado, mas tudo foi tão sonhado, era uma relação tão nova, tão cheia de expectativa e a briga com Ana vinha em sua cabeça como uma bigorna, o que lhe incomodava? A possibilidade dela ter razão, Edson ser apaixonado por ela, ela ter de fato, sem querer, roubado o namorado? A briga com Ana?
Pegou o celular e ligou para o Ed:
“Onde você está?”, perguntou.

“Estou chegando em casa, morrendo de sono. Como você está?”
“Querendo falar com você!”
“Sério! Algo muito sério? Dá para esperar?”
“Sério!”
“Eu estava pensando em você, estava dirigindo e pensando em você, você leu meus pensamentos. Quer que eu passe ai?”
“Sabe onde estou
?”
“Em casa?”
“Eu já me mudei...”
“Nem me esperou para ajuda-la?”
“Você sabia que eu me mudaria esse final de semana!”, Edson ficou em silêncio do outro lado da linha: “Você esqueceu que tinha que me ajudar, esqueceu que estava marcada essa mudança fazia meses...”
“Passo ai para a gente conversar! Quer algo para jantar?”, ele interrompeu.
“Pizza!”

Eu não faço idéia de como seja essa transição amizade-amor, sei que ela existe, mas isso nunca me aconteceu. Sempre encarei separadamente amigos e possíveis namorados, então, não sou a pessoa indicada para falar sobre isso, para mim tudo isso sempre foi preto no branco e fim. Olhando hoje com mais calma essa sena, acredito que a conversa entre Ana e Lílian surgiu efeito imediato, pois, de certa forma tudo começara a incomodar-lhe.


“Você já gostou de uma amiga?”
Pedro coçou a cabeça e me olhou: “Pesquisa de campo?”
“É que não consig
o entender essa transição, me parece tão fora de órbita a idéia de que ontem não hoje sim, que não consigo entender...”
“Hoje-sim, ontem-não?”
“Sim! Você, de repente, abre os olhos e percebe a pessoa a sua frente?”
“Não é exatamente "hoje-sim ontem-não". Para mim, há um campo superior a nós, o campo da afinidade, de onde vêm as coisas que gostamos. Já nascemos com grande parte da nossa personalidade moldada pelos genes, o resto é adquirido com o tempo, com noss
a criação, com o convívio com os amigos, nossa história, enfim, o mundo. Nossos relacionamentos são o espelho do que somos, ninguém ama por acaso, ama-se por afinidade, por cagar elétricas, feromônio. Amor é mais que pura poesia, é física, química, biologia...”
“História, geografia, matemática...”
“Você vê que eu leio o que você escreve... Mas o que quero dizer é que hoje nossa história é uma e amanhã será outra, isso é o hoje-não e o amanhã-talvez, é nossa mudança diária... O que nos faz olhar para uma pessoa diferente é o fato de mudarmos constantemente e, de repente, essa pessoa encaixar-se na nossa vida. É o quão a presença dessa pessoa vai ficando indispensável, ela cresce e o relacionamento amadurece. O amor não surge da convivência? Então, porque é tão difícil aceitar que pode-se conviver com uma pessoa tempo o suficiente para tudo mudar, inclusive o sentimento de amizade?”
“Engraçado, eu não consigo crer que amizade vire amor, para mim, você convive com uma pessoa e começa a vê-la de uma forma assexuada, ela se torna só aquela pessoa e não um possível p
arceiro. Eu posso crer que você ame hoje e amanhã sinta só amizade, o que acontece com muitos relacionamentos, deixe-me acrescentar. Posso crer que você conviva com uma pessoa numa relação puramente sexual e um dia comece a amá-la, mas amá-la como amigo e depois virar amor, me parece uma mudança muito grande...”
“Não, não é. É só um pulo, difícil, mas é só um pulo!”
“É como virar uma mesa! Não é simples, é uma mudança grande e não é só um pulo. Você já gostou de uma amiga?”
“C.C., sou humano. Todo mundo que se preze já confundiu amor e amizade...”
“E como se sentiu?”
“Desprezado, não tive coragem de chegar até ela, pensando bem... Não é só um pulo! Ela era como uma santa, algo acima do bem e do mal, para mim, era minha melhor amiga e conquista-la... Ela acabou namorando meu melhor amigo e um dia saímos para comemorar. É uma história engraçada... Quando tínhamos vinte e alguma coisa, saímos para comemorar o fato dela não ter engravivado dele, eles estavam tão feliz e eu ali...”
“Morto de amores?”

“Morto de amores!”, ele suspirou.
“Qual seu sentimento, hoje, por ela?”
“Se eu te disser que sei te torno uma amiga e ficará difícil partir para a próxima etapa...”
Teria aproveitado mais a presença do Pedro senão tivesse acontecido algo estranho. Primeiro o Daniel não sa
ia de minha cabeça, mesmo não entendendo de fato se ele era real ou não, ele estava em minha vida e me divertir com o Pedro... Era... Era errado!
Mas o caso, é que entrando naquele restaurante acompanhado com uma linda mulher o fantasma. Quem era o fantasma?
O fantasma tinha sido uma das minhas histórias surreais, meu namorado de seis meses que saiu para comprar cigarro. Da para acreditar que literalmente ele saiu para comprar cigarro e nunca mais voltou?
Eu fiquei dias, meses, semanas, sei lá, buscando uma resposta. Porque, embora
tenham sido só seis meses. Pombas, foram seis meses. E ele simplesmente olhou e disse: "C.C., vou comprar cigarro..." e o telefone dele começou a dá desligado, os amigos falaram que ele tinha viajado, a mãe dele disse que ele estava doente, estudando, tinha saído, comprado um carro e de repente João Pessoa ficou gigante. E passaram-se uns seis meses e lá estava "O FANTASMA" na minha frente.
Ele um pouco constrangido se aproximou e me cumprimentou, cortês, falou sobre a vida e apresentou a "amiga".
Acho que Pedro notou meu embaraço, minha vontade de sumir, quando ele saiu fiquei me perguntando quais dos meus sonhos ele tinha realizado com ela:
"O nome desse filme é: "A Volta dos que não foram"", dei uma risada.

"Péssimo encontrar algum morto-vivo, não?"
"Você tem algum?"
"Outro dia te conto..."

Talvez devesse ir na sua casa, sem avisa-lo, levava um jantar, deitava-se na cama com ele e o acariciaria até que ele dormisse. Um gesto espontâneo, inocente e que não escondesse nenhuma segunda intenção. Será que correria o risco de ser mal-interpretada? Será que ele se aborreceria com sua presença?
Voltou a travar uma longa batalha com o telefone, outro gesto simples, espontâneo, ligaria e perguntaria como ele está, falaria de seu dia e logo depois desligaria. Por outro lado, palavras são ambíguas, com sentidos muitas vezes vagos, quando não opostos aos que pretendemos lhes emprestar, e mais complicam do que favorecem a genuína comunicação.
Qual o problema? Ele é ou não é seu namorado, pegou o telefone e discou:
“Bob!”
“Ana? Ah! Oi tudo bem?”
“Tudo e com você? Como foi seu dia?”

“Bem, bom! E o seu?”
“Ai, meu bem, tive um dia difícil sabe...”
“O que houve?”
“Briguei com a Lílian e...”
“Meu amor, eu acho que você deveria ligar para a Lílian e conversar com ela, fazer as pazes, depois me diga o que aconteceu, certo? Beijão!”
Ela olhou para o telefone, já mudo em suas mãos e o colocou no gancho. O que tinha sido aquilo?
No mundo, creio, que não há quem nunca tenha se sentido só, aboluta e irremediavelmente só, num ônibus lotado, no trabalho, no final da tarde, num supermercado lotado, durante um show de rock, ou num domingo no shopping, em qualquer outro lugar caracterizados pelo grande afluxo de pessoas.
A solidão pode lhe pegar em qualquer lugar.
Porém, a forma de solidão que estou discutindo é muito mais incômoda e dolorosa. A
na estava como o telefone na mão, com marcas profundas na mente, seu consciente e seu subconsciente, cheios de causa, cheios de marcas de sofrimento.
Ela foi até a geladeira e pegou um vinho, o que estava havendo? O que foi aquele telefonema?
Parecia que aquele relacionamento tinha problemas maiores do que papel higiênico, falta de tempo, malinha ou ocasional vida sexual. Onde estavam suas expectativas? Como se sentira tão só?

Pegou o telefone e rediscou para o Bob:
“Qual o seu problema?”
“Ana? O que?”
“Sim Ana e repetito: QUAL É O SEU PROBLEMA? É outra garota? O que está havendo com você?”
“Meu bem, estive numa maratona de quase oito horas numa mesa de som, meu problema é sono!”
“Então, por que não me deixa esperá-lo? Por que eu não posso fazer o jantar? Por que não posso só dormir agarrada com você? Não é sexo, Bob, é atenção!”

“Ana, quando você me conheceu você sabia da minha profissão, sabia que eu não tinha hora certa, sabia que eu trabalhava a noite...”
“Eu não ia atrapalhar...”
“Amanhã co
nversamos, Ana. Amanhã!”
“Por que não hoje?”
“Ana Bolena, eu estou com sono, trabalhei oito horas e não estou afim de ouvir sobre sua briguinha... Melhor, não quero que desconte sua briguinha com sua amiguinha em mim, ligue para ela, resolvam-se e amanhã saímos para jantar!”
“Sabe, Bob, a questão não era descontar em você, a questão era que eu precisava ter você ao meu lado e não...”
“Estamos de cabeça quente, prefiro discutir olhando para você e olhe, não há outra mulher, você já dá muito trabalho. Beijo!”

“Foi aqui que pediu-se "melhor amigo ausente e arrependido?'"
Lílian mordeu o lábio inferior e abraçou o amigo.
"Peperone, como você gosta!”, Edson beijou sua testa e entrou, “Um dia você termi
nará de arrumar esse apartamento...”
“Não tenho pressa, quero colocar tudo em seu canto aos poucos, curtir o momento, abrir cada caixa...”
“Você está bem?”
“Estou!”
"A pizza lh
e comprou?"
"Um pouco... Acho que se tivesse um sorvete... Comprava!"
"Eu ei de pedi-lo, buscá-lo... Tudo pelo seu sorriso, Lili!"
"Não me mime, não é sua função de amigo..."
“Qual era seu assunto sério?”
“Por que você me abandonou?”
O abandono, como Lílian caracterizava, para ele, era a “ausência necessária”, precisava daquele tempo para fortalecer sua relação, viver sem o fantasma da possível namorada e melhor amiga. Era difícil fortalecer uma relação almoçando com a sua paixão, tendo que socorrê-la sem que precisava ou compara-la sempre com as namoradas, ela sempre sairia ganhando.
“Não é abandono, Lílian. Precisava fortalecer meu namoro, as pessoas fazem isso quando começam a namorar, é um modo de se adaptar...”
“Ando sentindo sua falta. Me acostumei com sua presença, você é meu braço direito, meu porto-segu
ro... Meu herói! Você não pode sumir assim, eu gosto de você ser meu ninho... Você resolve minha vida, me escuta, me ajuda com o meu carro, você me leva para jantar, você me acompanhando nas pequenas e grandes coisas, Ed. Sabe a minha pizza favorita, sabe que eu ronco, aceita minhas espinhas nas costas, arrasta a mesa, abre lata... Acho errado você sair da minha vida, somos amigos. Amigo não abandona...”
“Desculpa!”, para ele e o resto do mundo isso se caracterizava amor, "Desculpa!", ele a puxou para seu colo e lhe acariciou os cabelos, aquele bico que ela que ela vazia, a vozinha manhosa...
"Sinto muito, por você não gostar de mim como eu gosto de você", pensou.
“Tem novidades?”
Aquele momento tudo parecia tão claro, talvez tenha sido a primeira vez, sem o véu, que Lílian conseguiu vê o que realmente estava na alma de Edson.
“Dilemas morais quer ouvir?”
“Sempre!”
“Estava me perguntando qual é a relação entre vocês e o sexo, como fazer para uma mulher não se sentir culpada em dormir com você...”
“Culpada?”
“Sim, culpada! Vocês sempre têm essa idéia de que sexo é sujo, se sentem mal quando dormem com o cara
, dá trabalho, sabia?”
“Eu gosto disso na gente, sabia? Dessa transparência, podemos falar sobre tudo!”
“Se você quiser até em relações gays entre vocês e suas amigas, vai dizer que nunca rolou?”
Lílian deu uma gargalhada e passou a mão pelo rosto de Edson:
“Você é mais que um amigo, sabia?”, não aquilo não era amor e se fosse... Não, não era!
“Eu sei! Mas não mude de assunto!”
“Faça-a se sentir especial, mulher nenhuma quer ser mais uma na vida de um homem, se você está disposto a me abandonar por ela, faça com que ela se sinta especial...”
“Ela nunca vai tomar seu lugar!”
“Mas faça valer a pena!”

Luiza estava saindo do shopping quando esbarrou em alguém, João Antônio.
"Desculpa..."
"A gente sempre se cruzando!"
"Ah, Oh, o rapaz das flores, tudo bem?"
"Mais ou menos e com você?"
"Comprinhas, filme, jantar..."
"Sozinha?"
"É, variar um pouco... E você?"
"Vim pag
ar uma conta, me acompanha?"
Ela poderia fingir que tinha algo mais sério para fazer, mas já estava ali.
"Eu já lhe disse que tive a impressão de lhe conhecer de algum lugar, não?", ele iniciou o assunto.
"Foi?"
"Sim, não sei de onde, mas acho que lhe conheço..."
"E como ficou o dia dos namorados?"
"Estou solteiro isso responde sua pergunta?"
"Responde!"
"Já jantou?"
"Já! Como se sente?"
"Não consigo entender o quão ela não é compreensiva, quer algo mais simples, a floricultura se enganou..."
"E a foto?"
"Você corre o risco de levar uma surra..."
"E não ajudou muito, não é?"
"Não..."
"Posso ajudar em algo?"
"Não, não pode. Melhor eu ir..."
"Já?! Tá, tudo bem..."

Ao fim do jantar com Pedro, decidi não ir para casa e sim encontrar com Ana. Cheguei em seu apartamento e lá estava ela olhos inchados e triste:
"Por que essas coisas são tão dificeis?"
"Não sei, quando souber ganharei um dinheiro com isso..."
"O que ele tem, hein?"
"Não sei, mas não está dando valor a mulher maravilhosa que ele tem."
"Você não sabe o que estou sentindo, tão só, insegura, desamparada..."
"Olha, você tem a mim e..."
Nesse momento o interfone chamou:
"Sra. Ana, a Sra Luiza está querendo saber se ainda está acordada!"
"Mande-a subir, Carlos!"
"Tem a Luiza e..."
"A Lílian, eu sei!"
"Sozinha você não está!"
Luiza abriu a porta e pulou nos braços de Ana:
"Que reu
nião é essa?", perguntou.
"Senta aqui, que temos muito para contar. Advinha quem apareceu?"
"Quem?!", Ana indo para a cozinha.
"O Fantasma!"
"Nossa!"...

"Eu não pedi para ela ficar, ela sabe que na volta ainda vou estar aqui". Pela manhã, Edson parecia que tinha acordado de um longo e bom sonho, ao seu lado Lílian babava no
travesseiro, beijou sua testa e a puxou para mais perto. "Que perfume!", pensou. Lílian abriu os olhos e sorriu para ele, "talvez isso seja amor...". Lá estava ele, despenteado sem camisa, com remela no olho esquerdo, sonolento e sem óculos. Mas era o Edson e ele ali não queria outra pessoa, não se sentia sufocada, com ele ali não tinha medo. Se ele rompesse a fronteira como seria?
Ela desejou que ele fizesse isso, que ele passasse a mão em seu rosto, que ele tocasse seus lábios, prendesse as mãos na sua nuca e a puxasse para perto.
"Cada um por si, você por mim... Mais nada!"
Ele sabia o quão aquela mulher era especial para ele, o quão gostava de seus olhos, da sua boca, do seu sorriso, o quão ela o fazia sorrir, o quanto era fácil falar o que quisesse para ela. Lembrou-se de Vinícius
de Moraes e o soneto da separação: "Fez-se do amigo próximo o distânte...", ele poderia beijá-la, dizer que a amava e perdê-la... Se colocasse numa balança, com certeza a amizade valeria mais que o amor. Melhor tê-la pela metade do que perdê-la por inteiro, ele a puxou para perto e ficaram calados, eles queriam a mesma coisa, aquele era momento de dar um passo a frente, mas mudos ficaram a espera que o outro tomasse a iniciativa.

A vida arrem
essa os dados e temos que saber o que fazer com os números. Somos frutos do aleatório até antes da concepção e a tendência é sermos contraditórios. "Somos o que podemos ser", somos o que somos e o que seremos. Não sabemos que tipo de futuro nos reserva, mas grande parte dele depende da forma que trabalhamos com o passado e nossos fantasmas. A vida é um aprendisado e se fizermos do passado, das folhas escritas, um grande inimigo é provavel que nosso livro tenha algumas folhas a menos. Lembranças existem para serem recordadas, é saudável repassar um velho filme na memória, é doentio repetir esse filme e viver nele. Nossas lembranças e nosso futuro estão sempre conosco travando uma batalha para vê quem deve prevalecer. Aceitar que algumas coisas não são para ser, é fato e merece uma consideração. Temos que conviver com nossos fantasmas e saber vê os "três lados da moeda".

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