terça-feira, 5 de dezembro de 2006

Felicidade...

E ele me olha e desabafa: "Nessa vida não se pode ser totalmente feliz...", fechando os olhos com força consigo visualizar seus olhos cheios de lágrimas, seus dedos passeando pela minha cabeça e o medo de que eu o visse chorando. O que tinha? Qual o problema de ser humano? Lembro dele apertando minha cabeça contra seu peito: "Não, Queen Dy, seu rei não pode ser humano, não pode ser real...". E eu achando que poderia resolver tudo, salvar o mundo, envolve-lo em meus braços e fingir que sou a mulher maravilha, entrelaçado-o com meus "braços da justiça".
Talvez isso fizesse alguma diferença...
Hoje muita coisa não faz... Se eu tivesse sido mais forte, se tivesse sido mais sincera, mais amiga ou menos fria... Os "se eu tivesse" não mudam o presentem, não alteram o passado e não me dão a certeza do futuro...
Agora, voltando um pouco mais o tempo, nos vejo na praia.
"...e um dia feliz as vezes é muio raro"
Sentados numa praia e não nos conheciamos bastante para saber se havia felicidade ou falsidade em nossos olhos. Sua voz rouca me explicava o que era felicidade: "Tenho, por mim, que a felicidade é uma cenoura presa numa vara de pescar e fixada em nossas costas. Você pode morder a cenoura, mas nunca ficar com ela" e será que não é? Será que no fundo, como disse Vinícius: "tristeza não tem fim, felicidade sim"? Comprrendi que dessa corrida em busca da cenoura o que podemos conseguir é a certeza de que é sua busca que nos faz prosseguir.
O que mais se quer nessa vida é ser feliz, né? É acreditar que nossa felicidade não depende dos outros e sim de nós mesmos, que o que buscamos encontra-se exatamente no nosso jardim a espera de nossos braços para colher.
Mas felicidade não é "eu", pelo menos, a minha somos nós, é o futuro, são as realizações, as pessoas e o ambiente. É no futuro quando os sonhos tornaram-se concretos ter com que compartilha-los, é aceitar um pouco, sei que é difícil, que nada é eterno.
Hoje quando voltava da prova fiquei decorando um quarto mentalmente, pensando nos pequenos detalhes e onde ficaria cada móvel. Ai comecei a pensar na casa, no terraço grande, jardim florido e folhas invadindo a sala só para irritar. Nas risadas vindo do quarto e de como certas coisas se não forem realizadas vai faltar muito para a felicidade. E então, aquela frase voltou a minha cabeça: "nessa vida não se pode ser totalmente feliz...".
Na verdade, eu, confesso, não desejo a totalidade.
Não mesmo!
Queria só a parte, queria as vezes achar que o mundo vai acabar, mas se tiver fé tudo irá se resolver, queria chorar tardes sem fim, com a certeza que ao cair a noite a solução chegaria. É, meu caro amigo, felicidade completa nessa vida não existe e a busca por ela é o que nos faz caminhar. É a certeza que momentos de risada é o que faz valer a pena. Lá fora, exatamente agora, está chovendo...E eu ajudei um cego a atravessar a rua, pensei no meu futuro e o quanto eu tenho medo da "não realização".

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