segunda-feira, 2 de abril de 2007


"Não me venha com sermões, eu sei o que faço de errado, eu sei bem o que faço de errado. Eu sei quando tropeço e derrubo o palco, sei quando destrui biblioteca e... Eu sei!"
"Eu não ia dá sermão..."
"Não dê e não me diga "eu avisei", eu sei que todos avisaram. Mas eu tinha que arriscar e se você me disser que esse fim era claro eu não irei suportar"
De onde estavamos dava para vê toda a cidade, era uma alta varanda nos fundos de um prédio. O vento fazia um barulho estranho ao tocar nossas orelhas, eu estava na chuva e ele seco no único canto possível de se ficar naquela tempestade. Retirou o casaco e colocou sob meus ombros, ainda o acariciou, mas eu estava querendo era sentir aquela chuva rasgar meu corpo, limpart minha alma arrancar tudo que eu sentira, amor e dor:
"Eu não irei fazer isso!"
"Me diz o que fiz de errado?"
"Escolheu errado, só isso!"
"E como se faz escolhas certas? Como arrancar esse dedo torto?", olhei para minhas mãos com um certo nojo, costumava dizer que eu tinha um certo "Toque de Midas", capaz de transformar qualquer dom em maldição, ter tudo e não ter nada, está cheia e ser vazia.
"Se eu soubesse como escolher certo não estaria desse jeito, sentindo o que sinto, tentando ser super-homem e te proteger da chuva, desse tipo de gente e de mim..."
Eu me viro e olho:
"De você?!", saborei aquelas palavras. Eu queria que alguém me protegesse de tudo, que me agarrasse e me protegesse, até de mim.
"De tudo!"
"E agora?" - Olho para ele e passo a mão em seu rosto, não para secá-lo, mas sim para molhá-lo. Eu já estava na chuva e embora o seu casaco estivesse em mim, ele ainda estava seco, protegido da chuva e do frio que ela causava, que eu causava. Como pode? Juntos numa diferença de 30 centimetros, ou menos, e tão distantes? Sempre tive a impressão de que no momento que nossos universos se cruzaram um enorme buraco negro se abriu, carregando tudo e a todos, nossa vida, depois daquele encontro, nunca mais seria a mesma. - "Se a vida fosse um filme eu te beijaria, mas ai, eu sei, você falaria um texto ensaiado, não escutaria minhas palavras ou minhas lágrimas. Me diria alguma coisa, talvez uma mentira que eu iria descobrir assim que saísse dessa varanda ou falaria a verdade. Sua mãe está doente, da guerra eminente ou da razão secreta de não ficarmos juntos e eu entederia o segundo caso, que nosso sofrimento é por um bem maior, guardaria meus sentimentos, meus segredos, nossa vida e ficaria nessa chuva te imaginando e te amando mais, eu te amaria mais... Só que se for mentira e eu descobrir? Descobrir que no fundo você não me quer, que não há verdade em seus atos, eu morreria..."
"E agora?"
"Você me beija e vai ou me abraça e fica. Diz que sou tua vida e finge que é um filme bom, que somos capazes de amar e ficar juntos, finge que tudo isso não passou de uma comédia romântica. E eu mocinha desastrada desafloro em teus braços, descobrimos o amor juntos de uma maneira divertida e carinhosa. Faz com que a vida não seja tão séria, que o real não seja tão "para valer" e que ao aparecer o "THE END", os telespectadores suspirem querendo um romance assim, suspirem por nossa história. E não a transforme em mar de lágrimas, não deixem que saiam desse cinema aos prantos..."
"Eu não sei o que dizer!"
"Não diz nada, segue meu conselho. Vem para a chuva, porque eu já estou molhada!"
E ele passou a mão em meus olhos, tentando limpar minhas lágrimas, ele não iria se molhar por mim, seu beijo não existiria e tudo que eu implorei escorreriam com a chuva em meu corpo, ele saberia o que dizer para não me magoar, mas magoaria mesmo assim. Diria que nosso amor não é possível que o grande vilão me quer, que sua mãe doente precisa dele e que a guerra não o esperao, e todas essas lutas seriam por nós.
"Me perdoa! Perdoa se minhas palavras não acalentam, se tudo que quero é tudo que eu não posso te dar. Me perdoa, porque eu sei que não vou me perdoar. Eu sei que não capaz de te dar aquilo que você mais quer e eu queria... Não posso te dar a paz que você procura, realizar teus sonhos, mas tenho todo amor do mundo..."
"Do que me serve se não posso tê-lo? Amor por caridade? Dispenso!"
"Não seja tola, não seja criança!"
"Criança?! Me diz como não ser criança se me tiram, se você me tira, tudo que mais amo? Me diz como? Se até agora agir como adulta só machucou? A única coisa que te peço é o que você não me dá e me vem com esse texto ensaiado, palavras repetidas de uma música qualquer, de um livro que só se vende em banca de revista. Não quero! Não quero essa amor intangivel, esse sentimento de féu. Não quero!!!"
"É só o que posso te dar..."
"Então me diz como tocar para jogar, aonde está para eu cuspir, porque se você não pode me dá, eu também não quero esse amor, essas palavras cortantes como navalha, queimam como óleo fervendo...", pego em sua mão e a levo para meu peito. "Meu coração sangrando sentimento, minha alma te pedindo para ficar e meu corpo esse sabe que já te perdeu... És cruel!"
"Não, não sou!"
"É! E me deixa em paz. Segue teu caminho se é isso que queres..."
"Escuta, o tempo vai te explicar minhas razões, tem fé! Não pensa que a vida é assim ou preto ou branco, que é um filme e se você não ficar comigo ficará sozinha. Haverá outros, meu bem, relaxe! Haverá outra pessoa. Se é para ser um filme, não veja como vilão, fui fiel a nós até onde minhas forças deixaram e com a alma sangrando peço para não perder esse sorriso, essa alegria de viver. Peço que seja forte, que haverá outra pessoa e sua vida..."
"E essa pessoa chegará como? Ela me beijará do jeito que você me deixou? Me despirá a alma e me apresentará a um mundo que não conhecia? Essa pessoa viverá momentos como eu vivi com você. Eu não quero um João-Ninguém como prêmio de consolação, eu quero você... Me diz a verdade, diz que me ama e que vamos ficar juntos, não há guerra, não há mãe, não há motivo de força maior... Esquece essa história e embarca nesse mundo todo!"
"Olha, meu anjo, eu não posso..."
"Pode, vem!", tento puxá-lo.
"Olha, vê meu lado. Não digo motivos, não faço promessas que não irei cumprir, só digo que te amo. Te amo e te amo!"
"Olha nada! Se quer me deixar: Deixa! Pega essa tua mala, pega tudo que me deu e me deixa! Já fui humilhada demais por uma noite e tua proteção nunca apareceu em minha vida..."
"Eu vou, mas entende meu lado, entende o que te digo e o que deixei de dizer. Entende, que as vezes "não pegar" não quer dizer "largar", porque você vai está comigo aonde quer que eu vá, os caminhas que eu escolher, as guerras que travar é você que vai me fazer sobreviver!"
"Prefiro que morra!"
"Não diz isso!"
"Digo, vá embora! Você e minha dor, bem que me disseram que só quem você ama é que vai te machucar!"
"Eu sei que não é de coração, mas vou, vou para não te vê mais sofrer, vou mas vou te ver crescer, te ver mulher. Mesmo que seja com outro!"
Ele me puxou para o seco pegou em minha mão e entramos na sala:
"Não vou te deixar sozinha na chuva!", me beijou a testa e saiu.
Dizer o que a gente fica pensando nessas horas, só quem sente sabe, só quem sentiu entende como é perder alguém que se ama, tentar agarrar com unhas e dentes um amor que se desfaz como sorvete na calçada.

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