domingo, 23 de setembro de 2007

SEXY IN THE JAMPA
Traduzido pela SBT como
Solteira* em João Pessoa
*mas eu prefiro chamar de mulheres possíveis

Episódio I de VIII
(em numeral romano que é chique!)
episódio de hoje:
NÚMEROS (parte 1)
SUJEITO A ALTERAÇÕES E A LEVES CONFIRMAÇÕES
FALTAM IMAGENS
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IOS DA AUTORA: Essa é minha segunda novela, a primeira "Treacherous Concubine"
foi traduzida pela SBT com o título de "diário de uma malvada"
e inspirou a mulher que inspiro
u
O DIABO VESTE PRADA, DIÁRIO DE UMA MALVADA será reexibida
em breve pela SBT
Eu poderia começar esse texto com o GENESE como a bíblia começou, no entanto, decidi pular logo para os NÚMEROS, achei que esses tinham mais conteúdos.
João Pessoa...
João Pessoa deveria ser considerada a capital casal do mundo, é incrível como o número de casais por habitantes é alto nessa cidade, todos são casados ou namorados, andam em pares mesmo estão solteiros. Aqui todos querem ser dois, no mínimo.

É uma dessas cidades que “loves in the air” soltas pelo mundo, há amor por todos os lados e se a Lagoa fosse segura haveriam casais de mãos dadas passeando pela Lagoa. Assistindo o

s SIMPSONS – THE MOVIE, há uma cena quando HOMER e MARGIE estão no ALASCA e os passarinhos despem a Margie, não tenha dúvida que em João Pessoa essas coisas acontecem. Quando chove os casais ficam nas paradas de ônibus dividindo agasalhos de maneira triste, ou abraçadinhos embaixo de um guarda-chuva, aposto que em algum canto eles se vestem de frutas e você pode fotografá-los para um catálogo “chumbrega” ouvindo temas de abertura de novela, esse tipo de atitude deveria ser proibida para diminuir o índice de suicídio.
Os passarinhos estão aos pares, há pétalas de rosas surgindo misteriosamente, arco-íris duplos por todo o canto, pessoas vendendo flores, repentistas dizendo que vocês vão casar, entã

o, vocês devem imaginar como é insuportável viver nessa cidade quando está sozinho, não? Pelo menos, em Paris você estaria na capital da moda, João Pessoa você está numa cidade onde nada acontece e as pessoas vivem em pares hibernando em seus apartamentos. O índice de suicídio aqui também é alto, todo mundo conhece alguém que conhece alguém que se matou.
Entendeu como a vida dos casais afetam a vida dos solteiros nessa cidade? Depois desse pensamento percebi que a vida a um” seria bem mais fácil se não houvesse a “ditadura da vida a dois”.
Eu sei, ninguém quer ser “um”, esse é um número muito solitário, todos querem no mínimo ser “dois”, eu queria mais, queria ser três, quatro, cinco, seis, quem sabe? Ser mãe, pai, cacho

rro, gato, papagaio, dois filhos gorduchos e uma sogra adorável que faz doces e biscoitos. Mesmo que perdesse um pouco da minha individualidade, seria bom ter alguém para esquentar os pés, esperando você para jantar, assistir um filme na TNT no domingo, falar durante o jornal ou com quem compartilhar seu dia.
Tenho amigas que recomendam sem para os dias difíceis uma banda de lexotan, F R I E N D S ou um namorado... Eu não tenho um DVD da série, não tenho LEXOTAN e muito menos um namorado, então, para dia difíceis agradeço sempre a humildade de morar no segundo andar.
Hoje sou “quatro”, eu e mais três amigas, Luiza, Lílian e Ana, todas buscando um algo mais, o tal sonho impar de ser par.

Teoricamente cada solteira tem que conhecer dez “solteiros” (nem sempre damos essa sorte) para que possa no final dessa maratona sair namorando, são em torno de vinte e um encontros, alguns terminam no primeiro, podendo outros, chegar ao terceiro ou quem sabe o finalmente namoro? E o que faz um encontro ser bem sucedido é algo que irei abordar em breve. Mas, voltandon aos NÚMEROS, essa matemática é muito subjetiva.
Eu, ao longo desses dois anos, já beijei vários sapos, alguns sem volta, outros invadem meus sonhos todas as noites, para meu deleite e desespero.

Diferente dos alcoólatras, nós solteiros fazemos parte de uma comunidade desunida, embora haja um lema: “Um por todos e todos por um”, esse não é be

m verdade, na realidade não existe nem um S.A.(SOLTEIROS ANÔNIMOS), com ritual de iniciação e informação de quantos dias estamos solteiros e quando começou esse problema, não ganhamos medalhinha por 60 dias solteiros ou 365 medalhinhas... Acho que ganhamos risadas pelas costas e humilhação social... Quando solteiros temos, ou fingimos ter, um objetivo em comum DESENCALHAR, quando desencalhamos não voltamos para dá o depoimento encorajador aos guerreiros restantes, mandamos uma banana e dizemos: “Esse tem DONAAAAA/OOOOOO sua/seu desesperada/o”, ser solteiro não é fácil... Somos vistos como ave de rapina voando em cima da carne...


E mesmo sabendo dos problemas de ser solteiros os amigos casados passam a nosmarginalizar, nosconsideraderar bêbados cambaleantes (e daí se somos?), desesperados, hienas esperando as sobras de algum relacionamento na Cidade Par . Como essa novela é uma novela para solteiros, não vou dizer que os solteiros também acham os casais pessoas fúteis, sem personalidade, gordas, acomodadas e inúteis. Não espere diferente, mas pelo meu raso conhecimento de física, “toda ação gera uma reação” De qualquer forma, iludidas ou esperançosas, otimistas ou unidas, minhas amigas e eu combinamos seguir esse lema e não nos largaríamos nunca, mesmo que todas estivessem devidamente acompanhadas, seriamos grupo de apoio, companhia e introdução, pois, acima de tudo eramos amigas! O namoro seria o nosso prêmio por sobreviver a enumeros solteiros sem noção, por perder para uma certa loira aquele certo solteiro.
para uma “certa” loira aquele “certo” solteiro.

Eu, solteira há um certo tempo, o bastante para que a teoria dos “vinte um encontros” já tivesse furado, a cerca de 34 sapos atrás. Nesse período deixei escapar 4 príncipes, que as garotas costumavam dizer que eles me deixaram escapar...

Final de tarde, eu estava num antigo bar da orla pessoensse esperando minhas amigas faziam alguns minutos, analisava um casal no seu idiota idioma habitual o “casalês”, um idioma incompreensível para quem está de fora, mas eles teimavam em fala-lo alto, num tom ridículo, causando enjôos com suas expressões estranhas, para quem estava fora daquele mundinho cor-de-rosa (eu, o garçom e todos os outros naquele bar). Juraria que tratava-se da língua do “pê”ou alguma coisa retirada do DISCOVERY KIDS, mas entre “bicuchês”, “amu tu, amu tu e amu tu”, “tem é o pepe do papai?” eles pareciam se entender e, acima de tudo, estavam felizes. Para mim, isso era o sintoma inicial da vida a dois, perda do senso, você estava a tanto tempo preso numa vidinha de casal em um apartamento, que quando saia agia da mesma forma, fazendo “quase sexo” em público, falando feito um idiota, chamando por apelidos ridículos e ignorando toda uma sociedade prestes a lhe julgar. Me pergunto quem quer viver assim? Quem consegue escapar dessa síndrome? E... Quem não gostaria de estar no lugar daquela mulher? Talvez eu quisesse estar no lugar dela, talvez eu entendesse tudo aquilo que eles diziam e poderia estar tão feliz quanto ela. Embora prestasse atenção no casal, eu tentava me concentrar no meu I-POD, inúteis e sucessivas tentativas.
Ana Bolena, a mulher que enlouqueceu Henrique VIII, chegara repleta de compras, jogando tudo na cadeira ao lado e soltando um suspiro de emoção.
Ana era uma sonhadora de 26 anos, olhos claros levemente em forma de arcos, cabelos encaracolados de tonalidade idêntica aos olhos, apesar da chuva estava seca, lábios finos, pele suave e muito clara, aparelho nos dentes, vivia numa eterna luta contra a balança, mas a desafiante já havia sido vencida a muito tempo. A difícil e interminável disputa entre o real e o ideal, era algo constante nela, sempre estava acima ou abaixo do peso e isso mexia com sua visão de si mesma, andava sempre com 5 livros de auto-ajuda na bolsa e poderia citar mais seis, sabia tudo sobre felicidade, auto-estima, homens, relacionamento, filhos, calorias, chás, exercícios e medidas, era viciada em bumbuns e cintura, solteira a três anos e programadora, para mim, nossa garota de programada:
“Lembra-se do Bob?”, perguntou.
Quem ousará esquecer o Bob-Star? O DJ que usava um black-power e ousou dizer a uma nostálgica de carteirinha, eu, que seu cabelo era inspirado no penteado dos anos 80 do AHA. Na hora todo meu almanaque de informação dos anos 50, 60, 70, 80 e 90 se abriram em minha mente, todo o tipo de informação inútil gritando que ele estava errado. Primeiro, porque black-power era um penteado dos anos 70, segundo o AHA não tinha black-power. Mas, pelo menos, ele mostrará que era homem, não o moderno, homem-homem desses que cospem, peidam e te levam a loucura por não entender de maneira alguma as mulheres. Mas voltando ao “Bob-Star” me lembrava de um pequeno detalhe sobre ele o pedido da Ana: “ME MANTENHA LONGE DELE!!!”
“O DJ? Aquele mesmo Bob que aprontou mil e uma coisas?? Aquele mesmo Bob que você quer distância?”
“Sim! Aquele mesmo Bob, nos encontramos no shopping ontem e combinamos um jantar.”
“Jantar? Na mesma casa? E o mandado de restrição? Onde? Ana Bolena, para que tudo isso?”, olhando aquela tonelada de sacolas.
“Na minha casa, para usar finalmente aquela cozinha caríssima... Sobre o mandado de restrição fora cancelado, todos merecem uma segunda chance...”
“No caso do Bob milésima!”
“Sem exagero, C.C! Ele é um homem diferente dos outros...”
“Ele não costuma aparecer nos encontros, costuma marcar mais de um quando aparece, costuma sair com diversas ao mesmo tempo e até onde sei isso tudo é a natureza dele, como você disse...”
“Enfim, estou disposta a conserta-lo... Pretendo fazer um pernil ao molho madeira com pimenta roxa, um arroz a grega, um creme de cogumelos nobres e uma salada com tomate cereja!”
“Eu acredito que você cortará os legumes, cozinha-los, se souber como usar a válvula que liga a boca do fogão, mas preparar essa comida toda?”
“Creia, minha amiga. É uma nova fase para Ana Bolena, comprei esse livro de um cozinheiro francês que ensina tudo inclusive como combinar o vinho e a carne, além de perder peso...”
“Esse é o livro milenar das bruxas francesas? Tem alguma dica de como transformar atum em salmão ou fazer chamas coloridas, sempre quis aprender!”
Era uma sexta-feira típica em João Pessoa, já havia parara de chover mas Lílian chegará toda molhada e reclamando:
“Só consegui estacionamento a duas esquinas daqui, a Epitácio está inundada e quando cheguei aqui meu sapato chegou primeiro do que eu, graças a corrente que havia na rua, por pouco não perdi meu sapato”
“Carro?!”, indagamos, estávamos cheias de novidades.
“Comprei um carro!”
“E a carteira? Já comprou?”, perguntei.
“Ela hoje está afiada, Lílian. Está com espírito de porco ou a alma do palhaço no pescoço, nunca vi...”
Segundo a Luiza tratava-se de um diabinho que ficava no meu ombro dizendo tudo que eu deveria falar, era a “alma do palhaço” alguém que dizia: “I have great plans for you. Just listen” e eu apenas o seguia.
Para mim foi um talento que adquiri geneticamente com a evolução. Enquanto nas cavernas alguns clãs cuidavam do fogo, outros da colheita e outros da caça, alguns se preocupavam nas indiretas, no sarcasmo e no humor-negro. Eu não sei diferenciar o “azul-turquesa” do “azul-anil”, não sei dirigir, não tenho noção de espaço, tempo e não sei me localizar em nenhum canto, basta girar duas voltinhas que já não sei para onde fica o mar ou se eu estava subindo ou descendo, mas tenho um repertório completo de piadas, movimento corporal para estragar o dia alheio ou me divertir, meu lema é “perca o amigo, mas não a piada”, por isso que sou a escritora das quatro, sou a cronista do cotidiano, por falar nisso, elas me chamam de C.C (lê-se Sissi, como a princesa).
Quando Luiza fechou o quadrado da mesa Lílian começou a falar:
“Sobre a carteira resolverei em breve, dei um bolo no Edson e sai com o Ted para escolher o carro, essas coisinhas. Senti como se fossemos um casal e marcamos de sair hoje...” e suspirou contemplativa: “Tenho um encontro com o Ted... Ainda estou preparando aquela listinha de tudo que ouvi falar dele, vou chegar logo e pergunto, melhor do que ficar escondendo meu celular, bebida ou ficar pensando se a irmã dele é ou não filha dele, né?”
Luiza deu uma gargalhada, das quatro ela era a mais bonita. Grandes olhos verdes, cabelos compridos, sorriso perfeito, tinha o rosto levemente arredondado mas esse combinava perfeitamente com seus cabelos e sua boca pequena, era divertida, era formada em direito mas hoje trabalhava como relações públicas num plano de saúde com Lílian... Sempre que a olhava me perguntava porque estaria solteira e o fato de estar solteira era quase um problema para mim, era como se não houvesse esperança:
“Essa lista tem que passar por uma prévia censura antes de ser entregue. Fico imaginando a cena “Você matou seu pai com uma pá depois que engravidou sua mãe?”, vou ler e vê o que você poderá ou não tirar...”
“Verdade, não é legal! Mas houve mesmo esse boato?”, perguntei, afinal o rapaz não trabalha comigo e sim com elas.
“Não, não houve. Tudo bem, o pai dele foi assassinado, a mãe dele engravidou e dizem que é filha dele, mas nunca acusaram-no do assassinato do pai ou fizeram teste de parternidade. Não acharam provas...”, Luiza deu outra risada.
“Isso é coisa do índice da maldade!”, falei.
“O que?”, Ana perguntou.
“Vocês nunca ouviram falar?”, perguntei. “É um programa que passa depois de ASSOMBRAÇÃO, um programa sobre assombração.”
“O índice da maldade?”
“Não, o assombração! O índice da maldade é uma escala com variantes que um cara criou para analisar os crimes, variáveis como sanidade mental, passado, tempo, espaço...”
“E você vê isso?”
“Claro! Tenho que está informada, outro dia passou um cara que foi preso por estupro e pediu para a mãe contratar um estuprador para continuar estuprando no seu lugar. Então, começaram a aparecer estupros com o mesmo estilo desse estuprador e, pior, o mesmo DNA. Então, o advogado questionou o exame de DNA e estava quase sendo atendido quando descobriram que o cara ejaculava num tubo de caneta, dava para a mãe e ela entregava a esse estuprador, acredita?”
“A pergunta que não quer calar é: como ele tirava o semem da caneta, soprando?”, Luiza deu sua famosa gargalhada.
“Não, a pergunta que não quer calar é: como ele colocava!”, Ana acompanhou a risada.
“Enfim, há outras como ele usar drogas, ele tocar na orquestra, trabalhar como dublê, ser tradutor, escrever livros, ser ator pornô, dublê de bunda, pilotar jato, conhecer o presidente...” Lílian tentou retomar o assunto.
“Na minha terra havia um garoto que morreu de coice quando tentou sadomizar uma égua!”
Silêncio.
Meu índice de maldade médio media 23%, mas ultimamente graças a esses programas estranhos e a falta de carinho estava em 37% e assim meu humor estava mais estranho que o normal, pude senti-lo no olhar das meninas sem saber se retomavam o assunto anterior, falavam sobre o coice ou falavam algo novo:
“Nessas horas sempre me faltam palavras, mas acho que a palavra é continuando. Hoje vou jantar com “O Tal”, aquele advogado do quinto andar que contei a vocês outro dia, lembram?”, Luiza começou.
“O Tal”?! Ele lhe convidou para sair? Mas ele não tinha namorada?”, Lílian começou o interrogatório das quatro ela e Ana faziam o papel de policiais, eram elas que se preocupavam com todos, levantavam fichas e coisa do tipo, eu era mais o estilo bobo achava tudo muito engraçado, divertido ou apoiava as piores idéias, era uma companheira de aventuras, acabava sempre seguindo alguém, indo a uma festa que não fui convidada, no guarda-roupas ou segurando vela. No final, as coisas estranhas sempre sobravam para mim. Enquanto Luiza era advogada, melhor, a juíza ou a ONU, julgava o certo e o errado, tentava manter a paz entre nós.
“Não eu o convidei. Cheguei nele e disse que não me importava com o presente dele, pois ele era meu investimento para o futuro. Não posso deixar que a namorada dele interfira com meus planos de casar com ele, não? Nós temos futuro, meninas, senti desde o primeiro momento que botei o olho nele. E o primeiro passo para nosso futuro é, vamos jantar.”
“A questão é que ele não vai querer nada com você se você se entregar de bandeja para ele!”, Ana analisou.
“Não vou me entregar de bandeja. Quem disse que estarei no cardápio? Nossos assuntos já foram todos mentalmente ensaiados, o telefone irá tocar duas vezes no meio do nosso encontro e eu vou dizer que pode esperar, estou fazendo algo mais importante. Não serei a outra, Ana. Não posso evitar que sem-terra invadam terras improdutivas, se quiser conserva-las ou evitar a desapropriação cultivem-nas, porque eu estou cortando a cerca.”
“Isso é falta de ética!”, Lílian bombardeou.
“Estudei ética durante anos na faculdade e a tenho. Tenho ética profissional e ética com vocês, minha fidelidade está aqui, de resto, trata-se de competição justa, concorrência. Não vou deixar de casar com meu marido porque ele está namorando outra. Meu marido tem que ter pelo menos a chance de me conhecer, não? Para, pelo menos, saber o que está perdendo. E é isso que estou fazendo dando uma força para o destino.”
“Todas tem plano para hoje?”, perguntei.
Parecia que sim e o engraçado é que ninguém perguntou quais seriam os meus ou se eu os tinha.

A noite Ana Bolena já estava enfurnada na cozinha:
“Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia...”
“Sério, não acho a pimenta roxa e eu a comprei!”
“Tudo muda o tempo todo no muuuuuundo....”
“Pela “mãe do Guarda!”, CC, me ajude um minuto!”
“Nu
m indo e vindo infinito...”
“E agora?”
“Substitua por sal!”
“CC, se a pimenta pudesse ser substituída pelo sal não haveria pimenta e sim sal...”
“Num indo e vindo infinito!”
“Vamos lá, pegue a pimenta roxa. Eu sei que tenho essa pimenta eu a comprei por quase 15 reais, ela deve estar em algum lugar, onde a Nana colocou a pimenta roxa?”, eu estava imaginando a Ana de joelhos gritando “Por que????” ,
seus braços estendidos como quem rogasse por Deus, “Por que????” .
“Olhos nos olhos quero vê o que você diz...”
“CC, pare de me cantar e me ajude!”
“E estou, estou enviando vibrações positivas! Já sei, você já olhou no pimenteiro?”
“Se eu tivesse um pimenteiro eu já não teria olhado dentro?”
“Outra pergunta sem resposta, se eu tivesse 20 mil eu daria numa cozinha?”
“É a cozinha dos meus sonhos, realização de um sonho!”
“E a pimenta? E o pimenteiro? É um leve despertar? Use sal com coloral!”
“Sal e coloral, CC?!”
“Eu acho que esse é um sinal que você não deve usar essa pimenta, se Deus quisesse que usássemos a pimenta não a teria feito tão ardida, tudo bem, uma
pimenta roxa é fashion, mas, ainda é uma pimenta! Além disso, essas cores na natureza representam perigo, é jeito de nos manter distante...”
Graças a Deus, tem mais alguém na linha, espera!”, o telefone da Ana tinha uma peculiaridade quando ficávamos na espera, eu poderia escutar Pedro Bial recitando “Use Filtro Solar”, o qual para saber o final eu tive que baixar a MP3, nunca cheguei até o final.
“Vermelho ou preto?”, era Luiza.
“O que?”
“Vermelho paixão ou preto sensual?”
“Repito, o que?”
“O vestido, droga! Vermelho paixão com sandália ou um preto básico!”
“Ah! Vermelho, vermelho com certeza! Estou com a CC na linha, Luiza, mais alguma coisa?”
“Pergunte a ela!”
“Já vai! CC, vermelho ou preto?”
“Não era roxa?” , perguntei,
“O que?”
“A pimenta! Eu nunca ouvi falar de pimenta preta, mas também nunca tinha ouvido falar de pimenta roxa, então, tanto faz... Ou combine com o vinho, sei lá...”
“Combinar como com o vinho? Como?", dava para imaginar a cara da Ana de não estou entendendo "patota alguma".
“Com a carne, com seus sapatos, com suas intenções...”
“Não é a pimenta é o vestido da Luiza!”
“Vermelho e diga que tenho um sapato lindo, quando o uso da vontade de comer. Seu cheiro, sua cor, meus pés, fico calçada com ele deslumbrada, ai...ai... Eu como, eu como, eu como você! Que cute!”
“Você é alguma espécie de alien?”
“Da raça dos comedores de sapatos fofos!”

“Sempre imaginei... Vou dá o recado”, e eu voltei ao inicio do texto: “Ela disse que vermelho e que tem um sapato combinando, se você quiser vá antes que ela coma.”
“E vou, adoro o gosto da CC por sapatos!”
“Ótimo e veja como ela está, o que ela está bebendo... Sei lá! Ela está muito estranha...”
“Então está normal, ela é estranha!”
Lembro que vi num filme Sean Connory falando “a antecipação da morte é pior que a própria morte” , trata-se de uma idéia de Platão. Estávamos quase todas se arrumando para sair e uma ansiedade gostosa começava a surgir.
Eu e Luiza tomávamos vinho na piscina do meu prédio, falávamos sobre a melissa e quão linda era ela, sua cor, seu cheiro, seus detalhes (prendedores de cereja), a camurça... Luiza tinha marcado de encontrar “O Tal” no Shopping Bessa.
Eu não tinha pretendentes, meu amigo gay era hetero e ainda por cima tendia a estragar meus planos, meu príncipe encantado estava envolto de uma penumbra. Marcamos de nos encontrar no G-14. O último encontro que tive foi com um namorado virtual que estava sumido há algumas semanas, mas ele prometerá passar o Natal comigo, além disso, eu estava um pouco cansada de relações virtuais, complexas e “pseudicas” (mesmo tendo acabado de inventar essa palavra) e o vinho subira a minha cabeça:
“Se eu morrer não foi suicídio!”,
era a voz de Ana ao telefone.
Pelo que ela descreverá o pernil ao molho, estaria prestes a virar uma carne assada que ficaria pronta em menos de 4 horas, o arroz a grega ficara no branco e o molho madeira com cogumelos e pimenta roxa se tornará creme de milho com cogumelos. Mas o pior é que Bob ainda não havia ligado, na verdade, o pior era o fato dela está com a cabeça dentro do forno imaginando porque o bendito não acendia:
“Relaxe, pior não pode ficar. Pense no vinho, ele é o principal... Branco ou vermelho?”
“Ninguém fala branco ou vermelho, CC. E será tinto para combinar com a carne. Meu fracasso vai me inspirar, no futuro irei ser uma excelente goumert que faz das sobras grandes jantares e ainda coloca um nome engraçado francês!”
“Faça como eu, use o forno como estante para livros de gosto duvidoso!”
“O que?”
“Ah! Eu não sei cozinhar, tudo que sei é esquentar, então, uso o fogão para guardar meus romances “Júlia”, “Sabrina”, essas coisas que você lê mas não confessa.”
“Vinte mil numa estante de livros baratos?”
“Não, seiscentos contos numa estante secreta!”

Das quatro amigas, eu sabia, eu era a mais distante de alcançar o objetivo. “Existe amor para recomeçar”, eu acreditava que o fato de ainda haver amor em mim era um motivo para não recomeçar. As mágoas, feridas, e o elástico nas asas que impedia meu coração de voar era motivo suficiente para não recomeçar.
No fundo o pacto fora para me proteger, fingir que estava procurando era o melhor jeito de não ser encontrada e não receber criticas por viver nas lembranças, o passado estava na minha vida e eu diretamente ligada a ele. Tratavasse de um amigo intimo, que me embalava a noite e me fazia rir, recordar me protegia da vida.
O galpão 14 era um lugar peculiar como ele em João Pessoa só havia o Bebe Blues, que para mim não era um bar, era uma idéia.
“Festa estranha com gente esquisita”, o G-14 era isso, luz roxa, sinuca, cigarro e velhos com boina e gosto esquisito, música alta e um ambiente onde todos parecem se conhecer. Nessas horas eu sempre pergunto onde foi que eu vim parar... Mas adorava lugares peculiares, na verdade, eu adorava peculiaridades.
Eu estava admirando Bob Dylan que indicava o banheiro masculino e quem diria, quando deixaste de ser apenas um rosto, velho amigo? Era bem verdade, eu estava conversando com um rosto no banheiro masculino, um rosto pintado.
“Gata, você está falando com o banheiro!”
Figura Estranha 1:
Albino, 1,90, meio vesgo, cabelos loiros sem vida e algumas manchas vermelhas pelo, como pude imaginar (não constatar, Graças a Deus!) por todo o corpo. E eu olhando para Bob Dylan torcendo para que ele me carregasse para dentro do banheiro ou saísse de lá e me afastasse daquele albino estranho.
Foi exatamente nesse momento que aconteceu uma coisa estranha, na verdade duas. Dizem que quando dois universos se encontram dá para escutar um barulho, um objeto caindo, uma explosão. No meu caso foi uma microfonia ou algo que caiu em minha cabeça.
Mas não é exatamente isso, ou é, pelo menos é quase isso. O que aconteceu é que em um certo momento real e imaginário se confundiram, se fundiram, não sei, se separaram, talvez. O certo é que algo estranho aconteceu e eu, ligeiramente humana no meio de toda essa confusão:
“A rainha do nada e seu reinado é eterno...”

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