quarta-feira, 29 de novembro de 2006

Para o dia nascer feliz...


Quando abri os olhos já estava acordada, lia o jornal e tomava uma xícara de café, sorri e pensei que aquilo poderia virar uma coisa habitual: Acordar-me e te ver tomando café ao meu lado.
Você me olhou e sorriu.
Quando começa o último dia de nossas vidas?
Comprei o pão enquanto você tomava banho, tomei banho enquanto você preparava algo para o pão, pareciamos um casal.
Você se lembra do táxista?
E antes de saí encostou a mão de leve no meu peito me beijando com suavidade.
"Isso poderia se tornar um hábito", pensei.
Seu cabelo cheirava a uma flor, havia um buraquinho na gola de sua blusa, eu estava vestindo com uma calça caqui e era uma terça-feira, 18 de julho. Ambos iamos ao trabalho, seguindo direções opostas e você sempre cheia de vitalidade.
É um sorriso que eu nunca vou esquecer, respostas para tudo as quais nunca vou entender, mas você estava ali e o mundo, bem ele ainda era nosso... Se eu soubesse, teria te dado mais valor. Teria feito uma lista dos apelidos, dos beijos que faltaram e das risadas que demos, agora, tudo isso tem mais valor.
Mas é que a vida parece tão simples e você parece que sempre estaria ali: Tomando café ao meu lado, me protegendo durante o sono. E eu nem sei quando comecei a te perder...
Sou cara confuso, já te disse isso.
Outro dia nos sentamos e conversamos sobre as viradas que a vida dá, você parecia nem se lembrar daquele dia e eu não ousei te fazer recordar. Alguns momentos marcam mais a um do que a outros, não é? Lembrei de cada uma de suas palavras, de suas teorias e seus medos, hoje com sentido: "Para mim, sempre, é tudo ou nada..." , quando se tem tudo nunca se prepara para o nada.
Lembrei de suas palavras: "Acredito que todo filho único tenha um amigo imaginário, você se lembra do nome do seu? A minha se chamava Gledjá e eu acreditava que estudava comigo, dizia a todos que era uma menina loira que estudava comido do jardim a primeira série e um dia meus pais procuraram seu nome no convite de alfabetização e viram que ela não existia. Para mim, ela existiu até terminar o colégial quando um dia a encontrei, num casamento, e vi que ela tinha outro nome. Crianças e seus sonhos. Você deve ter tido mas tem coisa que é melhor não recordar..."
"Você tem sempre que gostar dos extremos, não queria nada meio doce e meio salgado, meio quente e meio frio, meio amor e ódio. Queira o amor e o ódio, o tesão e frigidez, não um meio sexo... Se for para ter transas frias, que me deixe sem transar o resto da vida. Se for para achar que amo, amar assim ou assado, que eu fique com ódio. Se for para ter saudade, eu prefiro esquecer!" Você poderia se tornar isso, uma amiga imaginária, alguém que eu contaria segredos, alguém que eu guardaria num lugar vago em meu coração, pediria conselho e travaria longos diálogos imaginários. Sempre quero saber sua opinião...
As vezes, não precisa alguém tocar um berrante, um cachorro atacar minha perna ou uma velha seguir a gente, mas eu quero ouvir o som de sua risada, seus olhos revirarem e você me dizer que essas coisas só acontecem quando estamos juntos.
Me diz como faço para recuperar tudo isso...
Nunca entendi merda nenhuma dessas suas idéias, mas sempre que te recordo ou que te via caminhando lembrava delas, dos nossos momentos, do teu sorriso perolado, das tardes quando depois do trabalho tomavamos café e um dia você me ligou para tomar um sorvete. Cinemas ao domingo ou um livro na praia. Você nãp faz idéia de como esses momentos marcaram...
Suas declarações de amor ou seu simples olhar de superioridade: O olhar!
Você olhava para o lado e baixava um pouco a sombrancelha, finalmente bufava algo como: "Homens!", "Você não cresce...Por favor, não cresça...".
Não é justo ter o amor de nossas vidas e vê-lo escorrer por entre os dedos como água. Me diz como eu poderia te prender? Aonde te guardo para não te esquecer?
Te recordar é um pouco montar um quebra-cabeças, juntar tuas peças e ao final vê se a figura forma teu rosto. Sei qual a cor de teus olhos, de que lado fica teu sinal "pulguinha" (de como você me contou da existência dele) e como gosta de ser beijada, é seu psicológio e seu físico sendo remontado dentro de mim. Se pudesse ter um scaner e me enfiar dentro de mim, para viver contigo com aquela mulher que deixei em frente da minha casa com a camisa rasgada na gola, no último dia feliz, ou te imprimir e tê-la com aquela camisa azul, com o cabelo cheirando a lavanta e te possuir numa manhã quente de terça-feira.

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